Em janeiro de 2020, a minha vida mudou de forma inesperada e radical. Até aos 52 anos, eu levava uma vida ativa, como professor de Educação Física e amante de desporto. Era comum passar horas a pedalar, caminhar nas montanhas e mantinha um estilo de vida saudável e dinâmico.
Tudo isso fazia parte da minha identidade. Mas num dos meus habituais raides de BTT, um pau entrou na roda da frente da bicicleta. Fui projetado, caí desamparado e, naquele instante, fiquei imobilizado.
Sempre consciente, percebi de imediato que algo muito grave tinha acontecido. Uma lesão vertebro medular ao nível cervical (C3, C4 e C5) tirou-me todos os movimentos do pescoço para baixo.
Os médicos foram claros: não voltaria a andar, não voltaria a ser autónomo e a minha vida passaria a ser marcada por uma profunda dependência. Mas desde o início, mesmo quando ainda me encontrava imobilizado numa cama do hospital, entubado e alimentado por sonda, sempre me recusei a aceitar aquele prognóstico como uma sentença definitiva.
A minha mente era o único espaço que eu conseguia controlar e foi aí que comecei a minha verdadeira jornada. Já tinha algum conhecimento sobre neuroplasticidade, especialmente por ter acompanhado de perto a condição neurológica grave do meu filho Gabriel. Esse conhecimento, somado ao apoio e inspiração da minha esposa Ana — psicóloga e entusiasta dos temas da espiritualidade e da autocura — foram fundamentais nos primeiros passos da minha reabilitação.
Dois amigos ligados à espiritualidade disseram, mesmo sem se conhecerem entre eles, exatamente a mesma coisa: “O Fernando vai voltar a andar.”
Essa mensagem tornou-se a semente da minha esperança. Comecei a visualizar, dia após dia, aquilo que sempre adorei fazer: caminhar, pedalar ou correr na montanha, voar de parapente… E era como se, de olhos fechados, eu continuasse a viver livremente.
A Ana, incansável, começou desde cedo a aplicar estímulos sensoriais, a colocar áudios de relaxamento e meditação nos meus ouvidos, mesmo quando eu estava em cuidados intensivos. E um grupo de amigos que ela própria mobilizou ajudava reproduzindo em mim a estimulação por ela programada.
Muito gradualmente fui voltando a sentir partes do meu corpo e, lentamente, fui recuperando algum do meu controlo motor.
A fisioterapia começou ainda no hospital e foi intensificada no Centro de Reabilitação do Norte. Foram tempos duros, agravados pela pandemia e pelo isolamento. Mas aproveitei cada momento livre para me focar na minha cura: por exemplo, visualizava uma luz curativa a percorrer cada parte do meu corpo; quando comecei a ter algum controlo sobre as minhas mãos comecei a fazer auto reiki, principalmente sobre a minha bexiga; e como passava muito tempo deitado, a meditação passou a fazer parte da minha rotina diária. Com o tempo, recuperei a capacidade de me alimentar sozinho, de me virar na cama, de tomar banho de pé… e até de voltar a conduzir.
Uma das maiores conquistas foi recuperar o controlo da bexiga — algo que os médicos diziam ser impossível. Mas eu sabia que a mente, aliada ao foco e à intenção, tinha um poder que transcende diagnósticos. Hoje, continuo a trabalhar diariamente, física e mentalmente, na minha recuperação. E a minha missão é clara: ajudar outras pessoas a despertar esse mesmo poder que eu descobri em mim. Aliás foi com esse objetivo que criei em novembro de 2023 o meu canal de Youtube em @fernando.frazao.
Sempre centrado na busca de soluções para mim, fui acrescentando conhecimento nas áreas dos poderes da mente, do desenvolvimento pessoal e das terapias holísticas. Passou então a fazer sentido abraçar uma nova perspetiva de vida, pelo que decidi abandonar definitivamente a carreira docente e abraçar um novo papel como terapeuta, hipnoterapeuta e mentor, ajudando outros a superar os seus próprios desafios de vida.
Se estás a viver um momento difícil, quero dizer-te: há sempre um caminho. Mesmo quando tudo parece impossível, mesmo quando o corpo falha, a mente pode ser o motor de uma nova realidade. A minha história é prova disso. E se ela te inspira, junta-te a mim nesta jornada. Ainda tens muito para viver e para transformar.
“Acredita em ti!”